Definitivamente, o rio teve mais de um nome na mesma época, pelo fato dos índios serem os autores das nomenclaturas
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Dentro do círculo redondo, temos um platô arredondado em uma pequena colina, na margem do rio Itabapoana em Calheiros, 2º distrito |
O erro cometido por todos os pesquisadores desde o século XIX, foi ter conjecturado sobre as variáveis dos nomes dado ao rio sob a ótica do homem branco, para todos esses personagens que escreveram ou conjecturaram sobre o nome “Itabapoana”, eles consideravam que o rio sempre teve um único nome em todo seu percurso...
...como se ele
tivesse sido denominado por Manajé, Muribeca, Cabapoana, Camapoan, Camapoana e
Itabapoana em tempos distintos e com cada nomenclatura prevalecendo em todo
percurso do rio, e definitivamente não se trata disso, pois se tivemos os
índios como os criadores desses nomes, indiscutivelmente que esses se inspiraram
nos limites de seus territórios...
...como os
nomes Managé e Muribeca serem inspirados pelas paisagens e o contexto ambiental
do rio nas proximidades da foz, o Cabapoana e Camapoan ou Camapoana inspirados
pela região no entorno de Santo Eduardo com a Pedra do Garrafão sendo a fonte
de inspiração central.
Permaneço
afirmando na tese de que o nome ITABAPOANA nunca foi uma variável indígena ou adaptação
linguística do homem branco, e sim um nome original dado pela tribo Puri que
vivia em Calheiros, e para tanto, vou utilizar do próprio material historiográfico
contidos em duas publicações do dr. Antônio para dissertar a respeito...
...com a
primeira demonstrando que em sua mais recente postagem sobre o tema, ele
somente utilizou documentos relacionados a capitania hereditária de Vasco
Coutinho, que era o donatário da capitania do Espírito Santo, com abrangência entre os rios Mucuri, no norte próximo a divisa com a Bahia, e ao sul no rio Itapemirim...
...e seu
epicentro de exploração era concentrado até Anchieta, e não em nossa região,
tanto que jamais se registrou qualquer expedição no rio Itabapoana por parte
deste donatário, apenas informações superficiais sobre a abrangência da
capitania.
Outra fonte de argumentação utilizada por historiadores, está no livro "Itinerário da Freguesia do Senhor Bom Jesus à Gruta das Minas do Castelo-ES" de Manoel Basílio Furtado, que realizou uma expedição passando pelo rio a partir do encontro entre os rios São João e Preto até nas proximidades da foz, no ano de 1873, e seus relatos confirmam minha tese, de que ele também se equivocou ao concluir a denominação do rio partindo de sua ótica de homem branco...
...ao passo que no início da expedição o nome “Itabapoana” foi a primeira denominação identificada por ele no rio, não por acaso, entre Varre-Sai e Bom Jesus/sede, identificando ainda as cachoeiras do Bálsamo de Rosal, da Fumaça de Calheiros e a do Inferno na Barra do Pirapetinga, chegando ele a traduzir o nome como “Rio da aldeia redonda”.
Basílio Furtado somente veio a mencionar os nomes Camapoan ou Cabapoana quando ele chegou no trecho do rio localizado na planície a partir de Santo Eduardo, inclusive com ele relatando que ouviu de um índio Coroado nessa região o nome de Camapoan, constatando ele de maneira equivocada que o “Itabapoana” seria um nome “moderno” ou que seria de autoria dos homens brancos, e que o nome original seria "Camapoana"...
...sem apresentar nenhuma argumentação substanciada para sustentar tal tese em seu livro, ele apenas especulou que o nome “Itabapoana” seria uma denominação moderna ou recente derivada de “Camapoana”, detalhando eu que ele sequer mencionou que o rio também se chamara “Muribeca” pelos indígenas, e não um nome de uma aldeia como ele relatou...
...caindo no
erro grave ao acreditar que o rio tinha o mesmo nome em toda sua extensão, e
obviamente que não, pois beira o surreal acreditar que os índios Puris que
viviam em Calheiros poderiam serem influenciados pela paisagem da Pedra do
Garrafão em Santo Eduardo, e assim eles também adotarem o nome “Camapoana” como
fizeram os índios Coroados, ou os Goytacazes do litoral com o nome “Managé”.
O livro de Manoel Basílio Furtado não pode de forma alguma ser o norte para debatermos os nomes do rio Itabapoana, ele tinha outro objetivo em sua expedição, que era chegar até a Gruta das Minas do Castelo no ES, e aqui em Bom Jesus do Itabapoana ele apenas relatou suas observações em sua passagem...
...e mesmo assim seu livro demonstra informações não condizentes com a cartografia oficial do rio que já existia desde 1865, como por exemplo ele cita os rios Preto e São João como afluentes do Itabapoana, e esses dois rios são na verdade os formadores que geram o Itabapoana, e jamais tiveram a condições de "afluentes" ou "tributários"...
...bem como ele erra ao afirmar em 1873 que "Muribeca" seria o nome de uma aldeia, sendo que em 1785 Manoel Martins do Couto Reis identificou esta nomenclatura como uma das duas denominações do rio que ele apurou em sua expedição, muito provavelmente que ele ouviu a palavra dos próprios índios.
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O livro de Basílio Furtado trata o rio com a denominação de Itabapoana quando o naturalista percorreu o rio entre Varre-sai e Bom Jesus, mudando a denominação somente a partir de Santo Eduardo. |
Outra publicação historiográfica veiculada no blog Fábrica de Sonhos Soares Borges, reporta sobre a história do alferes Francisco da Silva Pinto, que foi um dos primeiros desbravadores, senão o primeiro a chegar em Bom Jesus, mais precisamente em Calheiros provavelmente nos idos de 1830...
...estando
ele ausente de Bom Jesus durante o período da chegada de Antônio José da Silva
Neném em 1842, que viveu por aqui até aproximadamente 1850, e neste período da chegada de Neném, Silva Pinto estava preso pelo seu envolvimento na Revolução
Liberal...
...retornando
da prisão e de MG depois da partida de Silva Neném, Silva Pinto em 1860 mobilizou
outros onze cotistas para comprar as terras do desbravador que havia partido em
1850, para o grupo fundar a "Freguesia do Senhor Bom Jesus do Itabapoana",
substituindo o primeiro nome que era “Bom Jesus do Campo Alegre”, dado por
Antônio José da Silva Neném.
Observem que em toda historiografia envolvendo a fundação da freguesia de Bom Jesus, o termo Itabapoana é o referencial do rio que banha o arraial desde o início de 1860, justamente por influência de Silva Pinto, e possivelmente também pelos tropeiros que chegavam da região serrana com destino ao Porto de Limeira, por Silva Pinto ter chegado aqui primeiramente em Calheiros, e ele sempre teve a denominação do rio como Itabapoana pela influência indígena da época do início da exploração em nossa região por volta de 1830,...
...ao passo que os homens brancos, muito provavelmente os tropeiros que vinham de Minas Gerais, denominavam como “Rio Preto”, chegando o nome de Calheiros na época ser Santo Antônio do Rio Preto e posteriormente no final do século XIX chamou-se "Santo Antônio do Itabapoana", sendo esta uma constatação cabal de que o nome “Camapoan” ou “Cabapoana” jamais foram mencionados em nossa Serrana-BJI...
...por isso
afirmo categoricamente que o nome ITABAPOANA sempre existiu no eixo Rosal/Bom
Jesus, e as demais denominações relacionadas a Pedra do Garrafão são restritas
a região onde se localiza o monumento natural, entre Santo Eduardo e a antiga
Vila da Rainha.
Concluindo a
dissertação, recordo aos leitores que a fonte principal de informação utilizada
pelo dr. Antônio para sustentar a tese de que o nome “Itabapoana” seria uma
derivação do nome “Camapoan”,...
...e que, no
entendimento dele seria o nome original inspirado pela Pedra do Garrafão, é o
livro “Itinerário da Freguesia do Senhor Bom Jesus as Grutas das Minas do Castelo”, autoria de Manoel Basílio Furtado, conforme abordado acima...
...e eu utilizo como fonte de raciocínio os relatos contidos no primeiro, de oito artigos publicados pelo professor Arthur Sofiatti, um dos mais conceituados historiadores ambientais do país, denominados como “Memórias do Itabapoana”...
...no qual ele traz registros
documentais a partir de 1547 com relatos de Pero de Góis, o donatário da
Capitania de São Tomé, e que foi o primeiro a explorar o rio a partir da foz,
muito antes da expedição que resultou no livro publicado em 1884 por Basílio Furtado.
Reafirmo
finalizando, que se constitui em um erro grosseiro em insistir pesquisar a
historiografia das denominações indígenas do rio Itabapoana sob a ótica do
homem branco, de uma época em que se preconizava pela extinção em massa dos
índios em vez de tentar comunicar com eles de forma pacífica preservando a cultura indígena...
...chegando a conclusões estapafúrdias como a de que o rio tinha as mesmas denominações indígenas em toda sua extensão, mesmo tendo três tribos diferentes ao longo de seu percurso, ficando a hipótese absurda que os índios se comunicavam entre si e adotavam a mesma denominação mesmo vivendo em regiões com paisagens totalmente distantes, e distintas em suas características.
Nas imagens abaixo, temos os trechos que mencionam as expedições no rio Itabapoana a partir de 1547, na pesquisa realizada pelo professor Arthur Sofiatti em 2013, intituladas como "Memórias do Itabapoana".